segunda-feira, 5 de julho de 2004

Orgulho nacional

Findo o Euro 2004 o tempo é de balanço. Não me interessa o balanço desportivo nem a prestação da selecção ou o relativo desaire de a taça viajar para terra gregas. Atrai-me o aspecto sociológico deste campeonato que outros, certamente mais aptos que eu (sei lá, estou a pensar no Barreira da Latina ou no Luís Santos, se cá estivesse) irão decifrar nos próximos dias.
A brilhante e surpreendente carreira da selecção provocou uma onda de nacionalismo em Portugal e no seio das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo que não tem precedentes. O desfilar de bandeiras, os bonés e t-shirts e os cachecóis que invadiram o Luxemburgo são apenas uma manifestação visível do orgulho em ser português. Mais importante, e a calar mais fundo, é o prazer que teve por exemplo a Maria, a minha mulher da limpeza, em se levantar mais cedo no dia seguinte ao jogo com a Holanda só para ir dizer à sua chefa na Nettoservice que a Holanda perdeu e ostentar durante o dia de trabalho uma bandeira verde e vermelha na bochecha esquerda. Mais importante é gritar na avenue de la Gare durante uma hora, para quem quiser ouvir, "E esta merda é toda nossa, olé olé!". Mais importante é sair da mó de baixo a pulso de golos e lembrar que somos de uma nação que tem lugar entre os grandes (pelo menos nisto do futebol).
O Euro 2004 foi bom. Fez mais pela consciência nacional e pela não-naturalização de muitos dos nossos compatriotas aqui residentes do que discursos das eminências políticas ou a informatização do Consulado. Pode ser que os Félix Brazes que agora têm 12 ou 15 anos tirem da ideia serem luxemburgueses só porque há que fazer bicha no Consulado ou por causa da papelada militar.

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