quinta-feira, 4 de março de 2004

Roux Jean

Há muitos, muitos séculos, um francês abandonou as vacas do seu lieu de origem (que nem village chegava a ser) para ir em peregrinação a Santiago de Compostela. Tendo perdido o bilhete de regresso, aqueles montes calcorreou em busca de poiso definitivo. Jean de seu nome, bigodaça gaulesa farfalhuda, cabelo ruivo mal amanhado que lhe colou alcunha e depois apelido, acabou por se estabelecer entre o Douro e o Atlântico. Simples e generoso, "Roux" Jean acabou por ser enganado pelas lendas sobre moiras encantadas. Por isso, o seu objectivo na vida passou a ser o de fazer comer carne de porco ao resto de mouros que se arrastavam pelo reino desde que o primeiro Afonso partiu desenfreado para sul. O nosso Roux Jean abriu então uma tasca na Ribeira onde apenas servia pedaços de carne de porco, estufados, acompanhados de charcutaria da época e folha de abóbora (ainda não se conhecia a batata). E teve muito sucesso. Aquilo foi uma revolução gastronómica. Os tascos oferecendo a mesma ementa surgiram como cogumelos por toda a região. Não se comia outra coisa. O Roux Jean morreu, os descendentes também, mas o rojão ficou indelevelmente associado à cozinha lusitana.