sexta-feira, 23 de julho de 2004

Listening to Franz Ferdinand

Há dias que ando preocupado com alguma coisa. Não é nada de especial que me preocupa mas tudo me aflige. De manhã penso que as coisas vão correr mal. À tarde espero que não me pare a digestão e à noite desejo um sono descansado que teima em não chegar. Por isso deito-me tarde. Faço muitas coisas e não faço grande coisa.
Mas gosto de acordar e ver que lá fora há luz. Não se pode dizer que o sol brilhe porque as nuvens embaciam-no, mas pelo menos nota-se que o equinócio é bom. Que os dias são longos e que logo à noite vamos acabar na Place de Paris a olhar uns para os outros e a beber cervejas Mousel.

sexta-feira, 16 de julho de 2004

Nefasto

Tenho um amigo que... Não vos interessa saber se tenho ou não amigos? A mim também não me rala nada que vos interesse ou não, tenho um amigo e pronto. Tenho um amigo mas, sinceramente, não sei o que fazer com ele. Já me deu para o meter na garagem, ao pé dos pneus de Inverno, mas aquilo para lá está cheio de óleo. Já me deu para o enfiar debaixo da varinha mágica mas eu tenho horror a sumo de tomate, menstruações e outros líquidos burmelhos. Por isso, ponho-me para aqui a dizer coisas, que é o que esse amigo quer que eu faça... e eu faço... É pena que, assim, amande para o fundo textos como este daqui de baixo (o que está aqui mesmo a seguir), que é um texto giro e amanhã já ninguém o vê... Consequência nefasta da vaidade de escrever, é o que é!

Fujam daqui!

O pânico tomou ontem conta das ruas do Luxemburgo no momento em que pequenos pedaços do céu assumiram uma tonalidade azulada e uma bola de fogo surgiu por cima da cidade.
O burgomestre Paul Helminger recomendou à população que mantivesse o sangue-frio e incitou a que todos voltassem ao trabalho como habitualmente, em vez de seguir atitudes tresloucadas como deitar fora o guarda-chuva, despir os cachecóis e os casacos e sentar-se numa esplanada com uma cerveja na mão.
«Já experimentámos este fenómeno antes», declarou o edil. «Há mesmo rumores sustentando que este tipo de acontecimento, conhecido noutros países pelo nome de "bom tempo", pode voltar a acontecer ainda este ano». Um porta-voz do Governo apressou-se já a classificar esta última declaração de «extremamente improvável».

Não me fornique

Há dias, um corpo escorria pelo átrio da estação. Os trapos que o cobriam pareciam ter vindo na mesma remessa, ninguém os teria posto lá. Mas eu, embora não trabalhando nos serviços municipais de limpeza, custa-me ver este jardim desarranjado. É um tique que ganhei na cantina do Ofício. Debrucei-me em busca de um ponto de apoio para a minha gancheta, e o corpo resmungou: “Eh pá, não me fornique”. E, eh pá, eu não o forniquei...

segunda-feira, 5 de julho de 2004

Orgulho nacional

Findo o Euro 2004 o tempo é de balanço. Não me interessa o balanço desportivo nem a prestação da selecção ou o relativo desaire de a taça viajar para terra gregas. Atrai-me o aspecto sociológico deste campeonato que outros, certamente mais aptos que eu (sei lá, estou a pensar no Barreira da Latina ou no Luís Santos, se cá estivesse) irão decifrar nos próximos dias.
A brilhante e surpreendente carreira da selecção provocou uma onda de nacionalismo em Portugal e no seio das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo que não tem precedentes. O desfilar de bandeiras, os bonés e t-shirts e os cachecóis que invadiram o Luxemburgo são apenas uma manifestação visível do orgulho em ser português. Mais importante, e a calar mais fundo, é o prazer que teve por exemplo a Maria, a minha mulher da limpeza, em se levantar mais cedo no dia seguinte ao jogo com a Holanda só para ir dizer à sua chefa na Nettoservice que a Holanda perdeu e ostentar durante o dia de trabalho uma bandeira verde e vermelha na bochecha esquerda. Mais importante é gritar na avenue de la Gare durante uma hora, para quem quiser ouvir, "E esta merda é toda nossa, olé olé!". Mais importante é sair da mó de baixo a pulso de golos e lembrar que somos de uma nação que tem lugar entre os grandes (pelo menos nisto do futebol).
O Euro 2004 foi bom. Fez mais pela consciência nacional e pela não-naturalização de muitos dos nossos compatriotas aqui residentes do que discursos das eminências políticas ou a informatização do Consulado. Pode ser que os Félix Brazes que agora têm 12 ou 15 anos tirem da ideia serem luxemburgueses só porque há que fazer bicha no Consulado ou por causa da papelada militar.