terça-feira, 18 de outubro de 2005

Yahoo! troca a Madeira pelo Luxemburgo

Reproduzo um artigo de blogue de Miguel Frasquilho, pelo seu interesse evidente.

Esta semana, soube-se que a gigante norte-americana Yahoo! preferiu o Luxemburgo à "nossa" Madeira, para instalar a sua plataforma electrónica europeia.

Depois de ter negociado com a Sociedade de Desenvolvimento da Madeira a instalação desta plataforma em território português, na chamada "pérola do Atlântico", afinal, a Yahoo! optou por outras paragens.

E por que terá isto sucedido? Porque, com a subida da taxa normal de IVA decidida pelo Governo, para 21%, a taxa praticada na Madeira subiu dos anteriores 13% para 15%. E, assim, a Madeira deixou de ser a região da União Europeia com taxa de IVA mais baixa, tendo passado para uma situação de igualdade com outros Estados-membros, entre os quais saliento o Luxemburgo.

Ora, a partir do momento em que a vantagem fiscal desapareceu, e dado que o Luxemburgo tem um melhor posicionamento geográfico (mais central na Europa), menores níveis de burocracia e melhor qualificação de recursos humanos, a Yahoo! optou, naturalmente (e infelizmente para nós...) por escolher aquele país para instalar a "tal" plataforma electrónica na Europa que, de acordo com as regras comunitárias, prestaria serviços que seriam tributados à taxa de IVA em vigor no país escolhido.

Este exemplo é bem elucidativo da importância que a competitividade fiscal tem hoje em dia na localização de empresas, sejam elas originárias de onde forem. No nosso caso, dado que temos desvantagens enormes face à realidade europeia - como as acima identificadas pior localização geográfica, maior burocracia e pior qualificação de recursos humanos, e ainda, acrescento eu, uma legislação laboral mais rígida e uma justiça "tão-lenta-que-às-vezes-até-parece-que-nem-funciona" - essa importância é ainda maior.

Neste caso, dado que a fiscalidade deixou de ser vantagem, pronto, a deslocalização aconteceu mesmo.

Mas, grave, grave mesmo é que tenhamos um Primeiro Ministro (PM) que já por uma vez, na Assembleia da República, me transmitiu, textualmente, que "(...) não acredito em nada do que você defende no domínio fiscal!".

Pois, Sr. PM, sem querer "puxar a brasa à minha sardinha", seria bom que passasse a acreditar. Porque esta é a realidade e nada há a fazer.

Se quereis continuar a ler, ide directamente ao artigo, carregando aqui.

sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Cuidado, eles "andem" aí

Uma nova sub-espécie de tuga surge neste frenesim orgásmico pré-eleições locais grão-ducais: o candidato-fantasma.
Principais características: é criado em cativeiro em apenas algumas semanas (ou mesmo dias), não precisa de farinha de engorda nem de alpista, não precisa de estar inscrito nos cadernos eleitorais, não precisa de poder votar nele próprio, não precisa de saber distinguir a mão esquerda da direita, não precisa de saber falar luxemburguês ou português. Não precisa sequer de saber falar. Não importa se é dos azuis ou dos vermelhos mas quer comprar um gravata verde para "estar janota" no dia 9. Não faz mal se não sabe dizer o nome do partido e o que este defende nem o que a sigla significa.
Requisitos exigidos: Basta ser trigueiro, baixinho, ter barriga de cerveja, bigode (se for mulher é uma mais-valia!), se possível maçãs de rosto vermelhuscas do "tinto" e saber soletrar aproximadamente "caralho".
Ensinaram-lhe umas habilidades circenses para causar efeito antes do dia 9: abanar a cabecinha ora pra cima ora pra baixo, sempre a dizer "Jo! Jo! Van ech klift!" e a concordar com tudo com a personalidade daqueles cãezinhos na tampa da bagageira-automóvel colados com o nariz ao vidro a dar-a-dar. De vez em quando cruza os dedos arrenganha a tacha e diz as únicas palavras permitidas "bota na minha lista, fuoda-se, porque és tuga e eu tumbém!"

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Morning Café

Se vocês não forem adeptos do SLB e/ou não gostarem que apresentadores de televisão e/ou jornalistas manifestem publicamente as suas preferências clubísticas, protestem e/ou deixem de ver o programa "Morning Café" na M6. O novo pivot atreveu-se, na emissão de ontem, a soltar um sonoro "Viva o Benfica!". Os colegas de emissão mostraram desagrado pelo desvario, achando que ele deveria estar "do lado" do Lille, ao que o moço desabafou: "bah, c’est mon club portugais, alors..."

terça-feira, 13 de setembro de 2005

Nova grelha oxidável

Em Setembro, a Rádio Latrina alterou por completo a sua grelha de programação “face aos novos desafios de um futuro que mais alto se alevanta e vai chegar”, disse visivelmente auto-satisfeito e no seu estilo barrocócó o seu director-geral-principal-mor, Luiz Sem Beira, acompanhado pelo seu fiel director de desprogramação João do Pincel que acrescentou: «Tá tudo completamente diferente: de manhã vamos pôr música portuguesa, à tarde nem por isso, à noite discos pedidos». Anamaria Queque continuará a abrilhantar as manhãs da semana e os sábados ficam à responsabilidade de Carlos com Mel de manhã. Os entardeceres continuam a ser Pedro Espigues ou a Cristina Papalves.

As notícias novas recortadas do jornal continuarão a ser garantidas por Adelino Comes (?), Sérgio Farandoleira e Manuela Bravo...heu… Pereira.

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Adivinha de fim de verão

O Leonardo é um génio. Não o que nasceu em Vinci, que esse também antes de o ser já o era, mas sim o Cohen, que nasceu em Montreal e que de vez em quando trauteia: «o verão está quase no fim, o inverno está a afinar-se, o verão está quase no fim mas há muito que continua para sempre...». O fim do verão é melancólico, mas é saudável e reconfortante ver que há coisas que nunca mudam; há uma porção enorme de anos foi o (então comissário europeu por Portugal) João de Deus Pinheiro a ser confrontado no aeroporto com umas mantas muito quentinhas que tinham sido gamadas do avião da TAP; este verão foi um conhecido empresário tuga no Luxemburgo que tentou fazer uma parecida (e com os mesmos resultados embaraçosos) à Luxair. O Leonardo conclui: «Eu não me posso esquecer, só que não me lembro de quem»

terça-feira, 12 de julho de 2005

Altos voos

Eu gostava de ver os falcões-mensageiros. Sempre gostei de aves de rapina. Ainda em Portugal lia com atençaõ todos os livros ilustrados de aves exóticas e nem por isso. Aqui nunca vi nenhum falcão, nem mensageiro, nem peregrino. Só conheci o Zé Falcão que tinha uma tasca em Differdange mas que já voltou p'rá terra dele em Vouzela ou algo assim.
Mas porque é que eu não vejo os falcões? Talvez porque não ando de autobus. Talvez porque de carro tenha de me concentrar nos fogos e nos pietões, deixando assim o meu espaço aéreo desprotegido.
E no escritório? Bem, lá costumo trabalhar. Não tenho a sorte de certos vermes que passam a vida no escritório a olhar pela janela, a ver os falcões a devorarem ratazanas. E aproveito para lembrar ao Minhoca que entre ele e o falcão há pelo menos duas etapas da cadeia alimentar...

segunda-feira, 11 de julho de 2005

Falcão citadino

Pronto: admito que nem tudo é mau nesta cidade. Há pequenos tesouros aqui; um tudo nada afastados dos olhares dos cidadãos, como compete a todo o tesouro, mas eles existem. Numa cidade que, vista de cima, não passa de um amontoado de telhados de todos os tons possíveis de preto e de artérias, das mesmas cores, muradas de objectos de arte arquitectural do século XIX mas salpicadas de autocarros fedorentos em movimento abelheiro, pois numa cidade assim... há falcões!
Que eles existem nas florestas deste país, já não é novidade. Que nas florestas do nosso país rareiem, também não. Mas que surjam sobre um telhado ferrugento de um armazém do Estado — a dois passos da estação ferroviária principal, e de um estaleiro onde se trabalham metais, e de uma unidade de empacotamento de tabaco, e de uma empresa que manipula tintas —, isso já é motivo de espanto. Perdão, de admiração. Melhor: de deslumbramento!
Este falcão-mensageiro (tradução directa) de que falo, meu vizinho de "birú", não só se delicia com ratos e andorinhas no dito telhado como tem casa montada nas águas-furtadas do dito armazém. É um falcão citadino.
(este apontamento é especialmente endereçado ao RR, que acha que eu só aprecio o lado mau desta cidade – também me encantam os falcões citadinos que, como tu e eu, respiram este ar poluído por centenas de autocarros circulando vazios...)

domingo, 26 de junho de 2005

Epitáfio

Na minha campa, por baixo do nome, façam inscrever o seguinte: "Eu bem vos dizia que não me andava a sentir bem..."

sexta-feira, 24 de junho de 2005

A festa nacional

Este ano não fui à festa. Decidi ver o fogo do remanso do meu patamar. Estranhamente não senti a falta da turba bêbeda, dos amigos perdidos no caminho pró Grund e das manchas de cerveja na minha camisa nova.
Uns amigos disseram-mne que foi giro. Uqe havia música e muita gente (a sério?!?) e que até tocou uma banda de putos tugas (mais uma?).
Quando não se sai de casa entre as 18 do dia 22 e a manhã do dia 23 nem se nota que houve festa. No dia 23 ao meio-dia estava tudo limpinho, arrumadinho e ninguém adivinhava que tinha havido uma festa a não ser quem telefonasse para o escritório do Hugo e ouvisse a voz de sono: "toueee?".

segunda-feira, 20 de junho de 2005

Os buses são pós tugas!

Espanta-me a falta de solidariedade da Minhoca que ataca os autobuses como se se tratasse de um atentado à cidade. Nada mais errado. Os autobuses, toda a gente sabe, existem para que tu, Minhoca e outros vermes como tu, deixem os carrinhos em casa. Para evitar a fumaça. E isso dos autobuses criaram fumaça é mentira. Até há um que anda a hidrofuel ou pilha atómica ou lá o que é.
E depois um portuga não pode criticar os autobuses. Afinal, eles foram feitos para nós! É uma das muitas provas de como somos amados neste país de acolhimento que é o nosso.
Entra um dia num autobus Minha, ó entra. E vais ver que só se escuta a língua de Camões. Uma delícia. Nos autobuses é dos poucos sítios, tirando Gude Frende, onde ainda se pode praticar a língua portuguesa. Não acabem com eles. E até ouvi dizer que a comuna ia começar a recrutar portugueses para os conduzirem; desde que aceitassem ser luxemburgueses e passassem o brevet de piloto de linha.

Paris já está a fumegar?

A temperatura e mais não sei quê fizeram Paris mergulhar na penumbra fumarenta a que se convencionou chamar poluição. No Luxemburgo nada foi registado, apesar do número de autocarros vazios que circulam, incessantemente, pelo centro da cidade. Esses belos mamutes da mecânica, que lançam para o ar mais pivete do que a grega que trabalha connosco, e que chegam a formar muralhas da china estendendo-se, a partir da plass amiliuz, pela aveniu da libertê abaixo, participam em duas grandes campanhas nacionais: (1) fazer crer que a vila é uma cidade cosmopolita, (2) criar úlceras nervosas aos indivíduos, como eu, que querem utilizar as ruas na função para a qual elas foram concebidas.
Dou um chupa-chupa a quem, às horas e meias-horas, contar menos de 17 autocarros entre a ponte do adolfo e a praça dos comboios. Em cada sentido!!!

sexta-feira, 17 de junho de 2005

Escândalo

Muitos leitores assistiram a jogos dos Lusitanos em "casa" e recordam-se do estado daquele terreno: pesado, irregular, com sugestões de relva aqui e ali – quando chovia ficava um desastre. E, porque chove regularmente neste país, em mais de metade da duração do campeonato o campo era um lamaçal permanente. Os dirigentes desportivos pediam obras, suplicavam "um jeitinho" ao proprietário (a Câmara do Luxemburgo), para evitar lesões, sempre iminentes. O máximo que obtinham, de quando em quando, era que passasse uma máquina niveladora; o mal mantinha-se. E o Lusitanos ia pagando. E não era pouco.
Passem por lá agora! Está um luxo! Talvez nem os estádios das principais equipas portuguesas tenham relvados do nível daquele… Pudera! Dantes, quem jogava lá eram portugueses (embora pagando, não passavam de simples portugueses). Agora, são pessoas respeitáveis… Embora não pagando, continuam a ser pessoas consideráveis.
É um escândalo.

terça-feira, 14 de junho de 2005

Dia da Raça

Junho até começou bem (comprei um casaco novo), mas já há uns dias que tenho pesadelos e durmo sobressaltado. Foi graças a um daqueles momentos de alegre desatenção: desligava eu a minha Playstation e, talvez inebriado pela goleada que tinha acabado de inflingir no PES4, deixei que o televisor deslizasse até à malfadada RTPi. O cérebro estremunhado começou a enviar-me sinais de alerta, mas demorei até encontrar, trémulo, o comando salvador; foi o suficiente para vislumbrar os inanes que vieram ao Luxamburgo como quem vem ao jardim zoológico, a pretexto do Dia da Raça. A fauna que por lá pululava lembrou-me Diógenes: «quanto mais conheço os homens mais gosto do meu cão». Eu quanto mais conheço alguns pseudo-tugas, menos vontade tenho de festejar o Dia da Raça.

quinta-feira, 31 de março de 2005

Ai Wojtyla, Wojtyla...

Sua santidade andou por esta terra em altos luxos, agora está a pagá-las todas juntas. Nem é preciso falar em coisas como os escândalos financeiros, a implicação em redes terroristas ou os negócios em armamento; basta citar a opulência das suas peregrinações. Nas numerosas viagens de turismo e propaganda fazia-se rodear do bom e do melhor: eram tapeçarias únicas, copos do cristal mais fino e louça antiga, só vinhos de colecção, quadros da Renascença para decorar os seus recolhimentos, aviões a abarrotar de assistentes (para as refeições, para o banho, para tratar das unhas, para cuidar do corpinho, para lhe dizer as horas e ligar o ar condicionado). Agora, é a vez de Deus gozar como um alarve: “Andaste para aí à grande e à francesa, agora sofres, meu c...lho!” Deus nem o quer levar. Só quando se fartar de brincar com o Karola. “Santificaste essa vaca da Teresa, tirana de criancinhas asiáticas, agora toma lá. Sofre aí como um perro, antes de te juntares a ela!” Andavas de cu tremido, em carrinho à prova de bala com medo de quê?, de ires mais cedo para junto do Senhor? Ele andava descalço e espetaram-no numa cruz...! Até parece que o estou a ouvir: “Eu cá comia pão seco; tu, era só faisão... Pois agora vais comer pelo nariz, meu sacana!” Há um pedaço da sabedoria popular que deveria ser inscrito nas Escrituras, pois bem parece palavra do Senhor: “Cá se fazem, cá se pagam!” E quando, finalmente, passares para o lado de lá... não penses que vais direitinho pó Paraíso, não; vais ter de virar à esquerda, subir a colina e do teu lado direito verás a porta do Gulag que o amigo Vissarionovich Chugashvili já lá instalou, para ti e para santidades como tu.