quarta-feira, 25 de abril de 2007

Não há cravos no Luxemburgo!

Acabei de passar por cinco floristas na cidade do Luxemburgo. Não vi cravos. Em apenas uma havia um vasito com duas flores primas dos cravos, mas murchas de sede, mais uma série de botões em atrasado estado de florescimento. No 25 de Abril não há cravos no Luxemburgo!

Aposto convosco que se as datas de 4 de Julho ou de 14 de Julho tivessem flores associadas, pelo menos tão fortemente como os cravos são associados ao 25 de Abril, todas as floristas por aqui estariam, nessas datas, a abarrotar de tais flores. Duvidam?

Puto de desespero...

No Luxemburgo há 80 mil portugueses. Mas cravos, não.

terça-feira, 27 de março de 2007

Ideias, leva-as o vento...

Estou a ler um livro de um jornalista e investigador norte-americano publicado em 1943 (está esgotado, nem pensar em descobri-lo a não ser nalgum alfarrabista empoeirado). O assunto é o papel do ministro das Finanças do Terceiro Reich na reestruturação da economia alemã após o processo inflacionista e a ruína dos anos 20. O qual (Hjalmar Schacht), segundo o autor, conduziu a sociedade alemã (com uma forma moderna de proteccionismo) a um ponto tal que seguiria de olhos fechados, cantando e rindo, qualquer Hitler que lhe aparecesse pela frente.

Adiante. Notaram quando saiu esse livro? 1943. Escrito, portanto, muito antes de se pensar em desembarques na Normandia ou que a reviravolta de Stalinegrado fosse de facto irreversível. Nele, o autor (Paul Winkler) prevê que os "Prusso-Teutónicos" (conceito largo de Alemão mas perfeitamente actual, na época, ainda que objectivamente injurioso) iriam concretizar o seu objectivo de criação de uma união económica centro-europeia centrada na economia alemã sob a batuta da moeda alemã.

Até aqui, nenhuma semelhança com a União Económica Monetária e o sistema monetário europeu?

Ok, prossigamos. No livro há uma referência um trabalho de Charles Andler publicado em 1915, "Les origines du Pan-germanisme", no qual sintetiza as ideias de Friedrich List e outros economistas políticos do século XIX e defende uma «associação [de Estados] que teria de ser baseada no princípio de iguais privilégios para todos os membros».

Winkler cita um extracto interessante (mais hoje até do que em 1943) da obra de Andler, que é o seguinte: «É necessário organizar a Europa continental [...] Napoleão I, grande estratega, conhecia também os métodos da hegemonia económica. O seu sistema continental, que suscitou a oposição até de países que poderiam ter tirado proveito de um tal ordenamento, deveria ser reavivado, mas, desta vez, não como instrumento de dominação napoleónica. A ideia de uma Europa unificada num sólido bloco comercial já não choca ninguém caso seja a Alemanha a assumir a liderança de um tal bloco — não a França. A Bélgica, a Holanda, a Suíça, voluntariamente ou pela força, entrarão nesta 'Federação Aduaneira'. A Áustria será certamente conquistada [pela ideia]. Nem a França [...] será excluída. Os primeiros passos que a Confederação tomaria para assegurar a unidade de pensamento e de acção seria estabelecer um órgão comum representativo e organizar uma frota comum. Mas, claro, tanto a sede da Federação como o seu órgão parlamentar deveriam ser na Alemanha».

Tirando alguns pormenores... é giro, não é?

(Nota: longe de mim ilações sobre qualquer hipotético fio condutor independente de discordâncias políticas, guerras e outras tragédias; muito menos algum sorriso cínico sobre certos "sonhos" de certos pais, padrinhos e restante família)

domingo, 4 de março de 2007

Trilinguismo

O trilinguismo no ensino luxemburguês vai ser tema de uma conferência no dia 7 de Março. Recebi um belo convite (todas as associações portuguesas o receberam) explicando onde e quando e confirmei a minha presença.
Achei graça que, para ilustrar o folheto de divulgação, tenha sido escolhido um desenho onde duas pessoas, sentadas a uma mesa, falam não três línguas mas 5 ou 6. Entre as quais português.
Curioso que o debate sobre o trilinguismo surja num momento em que se discutem ao mais alto nível temas como a dupla nacionalidade (e a eventual condição da língua luxemburguesa como chave de acesso) e o aumento do número de estrangeiros, que tornará a comunidade luxemburguesa minoritária no seu próprio país a muito curto prazo.
Eu vou ao Atehnée na quarta-feira às 20 horas ver o que diz este emérito professor francês que - espero - seja convidado e não contractado para falar da problemática do trilinguismo com objectividade e conhecimento de causa.
E, já agora, pode ser que alguém pergunte porque é que não se fala também de quadrilinguismo... pode ser que algum dos responsáveis presentes pense: "Eh pá, era uma boa ideia incluirmos o inglês!".

domingo, 11 de fevereiro de 2007

A propósito do post precedente...

O texto que se segue foi publicado neste blogue em Setembro de 2003; e como prova o post anterior, mantém toda a sua actualidade. Por isso, e porque nada mudou, aqui fica outra vez:

Sempre gostei de salões de chá. A minha mãe, e mais frequentemente a minha tia-avó, levavam-me até cafés para senhoras que se chamavam salões de chá. Para mim era indiferente o tipo de clientela que frequentava esses locais, iguais aos outros cafés ou pastelarias.
Sempre gostei, contudo, das maneiras dos empregados. Nesses sítios que a Tiji frequentava, eram mais simpáticos que na pastelaria Moderna ou no café Albano e as senhoras pareciam ser todas amigas de velha data. Lembro-me da Xai Xai, no Porto, e do Mário, em Amarante, onde os bolos (quem não for do norte substitua por pastéis para melhor compreensão) eram excelentes e mesmo ali ao lado podiam comprar-se os cromos de todas as colecções que eu andava a fazer, incluindo os raríssimos autocolantes de "O Mundo de Fúria".
No Luxemburgo há muitos salões de chá. A tradição e a idade dos habitantes do Grão-Ducado garante um mercado estável. Talvez seja por isso que nessas casas o atendimento seja dos piores neste país, que já tem, de qualquer forma, como ex-libris comercial a antipatia.
As piores casas de chá são aquelas que se promoveram ao nível de salão-de-chá/traiteur/restaurante. O crescimento forçado abalou definitivamente as estruturas e o limitado profissionalismo dos empregados, difíceis de encontrar, complica as coisas. E quem paga a factura é a clientela.
Os preços, naturalmente, aumentaram quando a subida de divisão se fez, mas o pior preço a pagar é o tempo que se passa: meia hora à espera de uma pizza aquecida no micro-ondas ou quinze minutos é o tempo que demora um sumo de laranja a ser espremido.
Ontem, num desses estabelecimentos uma senhora alemã dirigiu-se ao gerente, que por acaso estava atrás do balcão, dizendo que, cliente há trinta anos daquela casa, nunca tinha sido tão mal servida. Nem o facto de a reclamação ter sido feita numa língua ideal para protestar fez o senhor levantar os olhos dos capuccinos que preparava. Só no momento de lhe dar o troco balbuciou: "estamos desesperados de trabalho. Muitos clientes na esplanada!".
É verdade, o longuíssimo Verão 2003 (graças a Deus!) apanhou desprevenidos muitos restauradores, mas essa desculpa não serve para o resto do ano, em que o serviço sempre foi lento e a maioria dos empregados antipáticos e desagradáveis. Ontem, eliminei as minhas teorias da falta de formação e da inexperiência. Afinal a antipatia e a falta de respeito transmite-se directamente do "senhor Oberweis" ou do "senhor Kohler" desde o alto da pirâmide até ao mais jovem aprendiz.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Os vendilhões do templo

Li recentemente que o ministro das Classes Médias (deliciosa pasta esta. As Classes Baixas têm para si o Ministério da Defesa; as Classes Altas, todos os outros), um tal de Boden, vai dedicar 3,3 milhões de euros a um comité que tem por missão incrementar o comércio do Luxamburgo e torná-lo «no pólo comercial da Grande Região». O presidente desse comité tem montes de ideias para como utilizar esse dinheiro (para além de no seu salário): «um concurso em que as pessoas vão dizer a sua loja favorita» e «uma sondagem para conhecer melhor as pessoas que compram coisas aqui». Génio. Então e quais são os pontos fortes do comércio nesta vibrante economia de mercado? «O multiculturalismo dos seus consumidores». Ou seja, os pontos fortes dos comerciantes daqui são... os compradores. Tá certo. E os pontos fracos? «Sem dúvida, o atendimento. Toda a gente o diz, temos que fazer aqui um esforço.» Não disse como, mas presumo que umas réguadas nas mãos dos comerciantes possam ajudar... E mais? «Nas lojas utiliza-se sempre o francês, e alguns luxemburgueses não gostam». Brilhante. Mas como os luxemburgueses trabalham todos no sector público, é difícil convencê-los a trabalhar como repositor ou caixa no Auchan e a gastar mais do que o seu salário só na renda do apertamento. É pena, porque seria indubitavelmente um grande incentivo para atrair ávidos consumidores da Grande Região que todos regurgitassem nada mais que luxemburguês atrás do balcão. Mais algum ponto fraco? «Os nossos concorrentes, sobretudo os alemães, fazem uma publicidade muito violenta sobre os nossos preços mais altos». Malandros, é o que eles são. Ainda ninguém tinha notado e pimba!, lá vêm esses gunas querer desviar os nossos queridos pato... clientes só porque vendem os mesmos artigos mais baratos.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Os culpados


O encontro de bloggers foi tão bom, mas mesmo tão bem feito, que até foi possível que alguém fizesse parecer bonitos (quando só o facto de os juntar na mesma foto já ser uma enorme vitória...) os três culpados.
Culpados de quê? Bom, por enquanto de nada. Mas alguma coisa se há-de arranjar, certamente. Assim poupa-se tempo.

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Blogues e outros bichos

Este fim-de-semana encontraram-se em Differdange uma camada de bloguistas (ou será blogueiros?). Uma iniciativa gira que serviu para os bloguistas se encontrarem, para outros se armarem e para alguns descobrirem que afinal há vida no espaço virtual e que não estão sós.
Gostei de participar neste encontro cheio de vida, com muita gente diferente. E gostei ainda porque a motivação daquela gente me deu vontade de voltar à vida activa opinativamente falando.
De vez em quando dá-me destes ataques: apetece-me falar, reclamar, botar cá pra fora tudo aquilo que enche a minha vesícula e só sai a xutos de Buscopan.
Uma das coisas que me anda aqui atravessada é, por exemplo, uma publicação do meritíssimo Jornal do Fundão sobre os portugueses do/no Luxemburgo. Uma ideia gira e original, mas que me fez mal à vesícula pela singeleza das declarações de uns ou pela vaidade das de outros.
Deixo só aqui um excerto de uma entrevista curiosa e que, certamente, o jornalista adulterou porque imensas imprecisões saltam aos olhos daqueles que, como eu, já cá estão há muitos anos (sim sim, já são quase 17) e conheceram as capelas todinhas. Então aqui deixo algumas citações, seguidas de várias possibilidades sobre o nome do actor de tais declarações; cabe ao estimado leitor deitar-se a adivinhar. Quem conseguir recebe um ano de assinatura gratuita a este blogue:

"Criei a Confederação das Associações Portuguesas porque estas associações andavam cada uma para seu lado"
Quem o disse? Filipe Faria / Coimbra de Matos / José Trindade / Luís Barreira

"Começamos como uma rádio de vão de escada, numa cave, onde apenas tínhamos dois microfones e um caixote de sabão a servir de banco"
Quem o disse? Jaime Gonçalves / Manuel Chora / Luís Barreira / Mário de Abreu

"A primeira vez que eu peguei num carro fui parar à Alemanha sem sequer dar conta"
Quem o disse? General Patton / Luís Barreira /Michael Schumacher / Zé do Tuning

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Obrigado! A sua colaboração é essencial porque nós perdemos o único exemplar que tínhamos da revista.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O mais velhinho...

Vem nos jornais desta semana que este blogue é o mais antigo do Luxemburgo.
A sério?
Pelo menos em língua portuguesa parece que sim. O que é uma honra para nós, os seus papás.
Mas mais problemática que a honra é a responsabilidade. Como todos as crianças, os blogues também precisam de serem amamentados, acarinhados, e outras coisas acabadas em "ados" ou "idos".
Por sermos o mais velhinho cá do burgo temos responsabilidades que vamos assumir a partir de agora. Ou seja, vamos continuar a "postar" para manter vivo este menino que já está quase a ir para a escola...