quarta-feira, 19 de novembro de 2003

É tão bom ser magnânimo!

Comprei um Fiat Uno velho ao Roso. Todo podre. Por um euro. Pensava fazer umas coboiadas e uns piões mas afinal nem sequer conseguimos chegar com ele ao controle técnico. Ou melhor, chegámos mas a chave ficou dentro da fechadura da porta do condutor e foi preciso empurrá-lo até à entrada do serviço de controle. "Você onde pensa que vai com o carro assim?", disse o luxemburguês mal encarado que tem como função assustar os rapazinhos do "tuning". "Nós queríamos ver se o senhor nos empresta um pé-de-cabra; a chave partiu na fechadura...". O homem não se deixou convencer e insistiu que tínhamos que tirar aquele "esterco" dali...
Conseguimos entrar pelos buracos da ferrugem da porta do lado direito para descobrirmos logo a seguir que o canhão da ignição podia ser activado com o toco de chave que sobrava. Fixe! Levámos o carro para a garagem do António para ser reparado.
O António telefonou-me na semana passada: "tens ali reparação para mil euros. Que faço?". "Deita fora", disse-lhe eu. O António explicou que aqui no Luxemburgo não se deitam carros fora. Não há buracos de pedreiras onde depositar velhos automóveis e mesmo que houvesse a bófia apareceria de certeza em casa do último do dono para lhe pedir educadamente que fosse tirá-lo do buraco. Havia sempre a possibilidade de entregar o carro a uns sucateiros belgas que - como os tugas - ainda ficam com carros sem lhes pagarmos um tusto, mas é sempre preciso pagar o transporte... (O António não concebe que um doido varrido pudesse pegar no carrinho, pô-lo a trabalhar e levá-lo pelo seu próprio motor até ao sucateiro. Não faltava mais nada, afinal é um carro proibido de circular!).
"Espera até à próxiam visita do sucateiro", disse-lhe eu, tentando poupar uns cobres.
O António telefonou-me hoje para dizer que o sucateiro pede 50 euros para ir buscar o carro, e acrescentou que um dos seus mecânicos estaria interessado em recuperar o carro nas horas vagas e oferecê-lo à mulher. "Quanto pedes pelo carro?", perguntou-me o António. "É cadô", disse-lhe eu espontaneamente. Senti-me bem comigo, mas já me arrependi. Afinal perdi um euro no negócio!

Sem comentários: