quarta-feira, 29 de outubro de 2003

Camisas.

Gosto imenso de Londres. Chamem-me vaidoso, chamem-me vazio, chamem-me mesmo panasca, mas eu era capaz de ir a Londres só para fazer compras no Harrods. Infelizmente, não posso gastar mil euros em camisas todos os sábados à tarde. Por isso não vou a Londres mais vezes. Perguntem-me porque é que não vou visitar o tesouro da Rainha, porque não visitei a fabulosa exposição de fotos sobre Marylin, ou fiz um daqueles roteiros que até incluem o palácio onde nasceu, de família humilde, Sir Winston Churchill.
Porque o Harrods é muito mais divertido. Porque o Harrods representa "the world as I know it". Porque o Harrods só tem concorrência talvez no Saks Fifth Avenue (apesar de o Harrods ter uma secção alimentar mais apetitosa que se bate muito bem com as vendedoras de fazer parar o trânsito que ornamentam a casa nova-iorquina).
Este fim-de-semana estive no Harrods Knightsbridge. Ou seja, este fim-de-semana fui a Londres. Parti na sexta-feira de Bruxelas, em Eurostar, e cheguei à capital do império quatro horas depois (as duas horas e vinte anunciadas "partout" são mentira: há sempre um impedimento técnico qualquer). Sexta-feira saí à noite. Jantarinho, uns copos e cama para guardar energias. Sábado, tentativa de explorar as lojas de Oxford Street, paragens obrigatórias na Virgin e na HMV, despesas incomportáveis em DVD's do Kieslowski e bandas sonoras de filmes. Taxi! E tá a andar para o Harrods. Onze libras e um magnífico "thanks guv" depois (Londres é o único sítio onde me chamam governador) estou no centro comercial mais lindo do mundo (sim, ainda mais que o NorteShopping).
First stop: casas-de-banho. Esqueci-me que cobram uma libra por visita, a não ser que faças prova de consumo num dos bares da casa. Lógico e aceitável. E não se pode dizer que seja caro. Qualquer retrete de auto-estrada belga te pede 50 cêntimos para um chichi fedorento sem o enquadramento arquitectónico do Harrods!
Depois de comprar um chá para a miúda do Campinho que só gosta de Earl Grey trocopasso, vamos para where the action is: a zona dos designers... para homem. Logotipos prestigiosos preparam-nos para o prazer dos olhos e para o desespero das carteiras. Armani, Dolce, Paul Smith (o verdadeiro rei de Inglaterra, diga-se de passagem), Vicri...
Vicri? É verdade, Vicri. As camisas que melhor se fazem na nossa ocidental praia lusitana são as da Vicri, vendidas no norte do país nas casas Douro ou Heraldic, a preços que alguns consideram proibitivos (18 contos uma camisa? Vai pó c******!). Pois no Harrods, as camisas Vicri ostentam preços entre duas e três vezes superiores aqueles que são praticados no centro comercial Península na invicta. E fazem muito bem. O prestígio tem de se adquirir e só se obtem pelo preço ou pelo marketing. As camisas Vicri, no Harrods, exibem-se sobre belas caixas, à antiga, como as velhas Triple Marfel, mas com um toque de muitas cores a lembrar o Paul, o tal que devia ser rei de Inglaterra. E no interior do colarinho, em lilás, uma pequena etiqueta onde se podem ler duas linhas. A de cima diz em letras grandes VICRI, a outra acrescenta com candura, como se de Paris, Milão ou Nova Iorque se tratasse, Porto.

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