terça-feira, 9 de dezembro de 2003

Noite

E disse amo-te mas não sei se me ouviste, e nesse momento, à medida que a noite chegava ao fim e eu tentava adormecer, senti pela primeira vez que a vida passava em mim. E senti a corrente, o ruído que o sangue faz ao passar-nos nas veias, senti que a vida pode ser algo de concreto, físico, que nos ocupa, que cria um sentimento supremo de existência material.

Quarto escuro, 5h36 da manhã. Frio. O momento de união entre almas que deveriam partilhar a vida. Não me respondeste, não me respondas. É a tranquilidade do teu sono que me diz que tenho uma vida. Contigo.

Adormeço. Sonho. Contigo.

Existirá morte para além da vida?

Existo eu, a vida que vive em mim. A felicidade de saber que existo. Contigo.

O medo de perder não existe. Não te posso perder, és minha como a vida que vive em mim. Não existo sem vida, não existo sem ti. E estou contigo. E vivo.

E os sofrimentos remotos. Ousei fechar os olhos, arrisquei perder a vida que nesse momento existia em mim. E sonhei.

Sonhei que a minha vida seria sempre assim, finalmente real, finalmente elevada a um estado insensível aos sentimentos menores.

Acordei. Olhei. Admirei. Beijei.

E senti que a vida continuava.

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