terça-feira, 23 de setembro de 2003

Swiss

Os problemas da companhia aérea Swiss lembraram-me o meu encontro com um dos gurus do design e do estilo, o canadiano Tyler Brûlé. Foi este senhor que criou os novos logos da Swiss e toda a "corporate image". Quem é Tyler Brûlé? Jornalista de formação, foi repórter da BBC e deixou o trabalho de campo depois de ter sido ferido enquanto cobria a guerra do Golfo. As balas, como se sabe, podem levar a grandes decisões e neste caso Brûlé passou a escrever como free-lance para a Stern e a Vanity Fair (muito menos perigoso).
Insatisfeito, Brûlé teve uma visão: criar uma revista "branchée", destinada uma classe mais alta que média, aos jovens urbanos metropolitanos que viajam muito por prazer ou obrigação e que possuem lofts mobilados com móveis de design. Tyler pegou em todo o dinheiro que tinha e passeou-se com algumas maquetes de revista pelos escritórios dos presidentes de grandes marcas, sobretudo na área da moda. Um dia, a Gap assinou um contrato de um ano. E, como diz Tyler, basta que um assine para que Dolce & Gabbana, Armani e todos os outros implorem para estar presentes. O projecto viria a chamar-se Wallpaper. Uma revista revolucionária que já fez discípulos e concorrentes.
Entretanto, Brûlé perdeu a Wallpaper. As dívidas acumulavam-se e foi obrigado a aceitar uma oferta quase insultuosa. Hoje, ao que sei, a Wallpaper está de saúde.
Brûlé criou na Suiça, capital do design, uma empresa de design gráfica e consultadoria de imagem destinada a multinacionais. O seu primeiro cliente foi a Swiss (e segundo a teoria do dominó de Tyler, muitos se lhe seguiram). Tyler chegou à sede da transportadora e disse-lhes que a primeira coisa a fazer era eliminar a cruz: "Como é que vocês querem voar para destinos onde a cruz é odiada arvorando-a numa asa de três metros?". Os dirigentes da ex-Swissair e da futura Swiss não lhe deram razão, mas acharam que Tyler tinha ideias para vender e atribuiram-lhe o "relooking" da empresa.
Hoje em dia, ainda tenho a impressão de que Tyler Brûlé vende vento, chuva e mau tempo sem ter sequer uma formação de meteorologista. Teimoso e arrogante, ele prefere definir-se como motivado e convicto. Até é um tipo agradável quando não se fala de trabalho, mas na verdade, Brûlé nunca fala de trabalho; para ele a vida é um passeio patrocinado por empresas que precisam de gastar dinheiro e porque não fazê-lo numa nova sala recheada de móveis a 100.000 euros? O Tyler tem de certeza uma boa ideia sobre a decoração da sala do CeO e até conhece um antiquário...

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